Albano Martins escreveu um poema inspirado na obra de Manuela Mendes da Silva, celebrando a sua exposição Albedo no Clube Literário do Porto.
A exposição Albedo, de Manuela Mendes da Silva, marcou um momento único na relação entre arte visual e poesia. O escritor Albano Martins, inspirado pelas obras da artista, dedicou um poema à sua criação. A sua poesia, carregada de simbolismo e lirismo, reflete a profundidade emocional que a obra de Manuela desperta.
O poema de Albano Martins, extraído da sua obra “Assim são as algas”:
“A melodia do tempo e do espaço liberto. A do azul. Do azul que de dia te serve de sonora grinalda e à noite é o repousado diadema de estrelas que te orna a cabeça e coroa os teus sonhos. Repara. Há um rio correndo entre as falanges dos dedos. Navegá-lo-ás solitário, porque solitárias são as navegações humanas, todas, como inavegáveis são os rios, todos os rios da terra, anteriores ao mar. Onde tu vês a foz é a nascente que vês. Que os rios, como tudo o que é fluido e movente, nascem ao contrário, cegos pela luz que irradia, com seus holofotes de sombra, dos sois submarinos. Não te iludas: o que é aparente é que é real. A verdade da vida não é a própria vida, mas o que nela se vela ou se esconde. Um espelho de duas faces. A imagem verdadeira projectada é sempre a da face oposta ou oculta. O seu negativo.”
Sobre Albano Martins
Albano Martins (1930-2021), poeta português de renome, marcou a literatura nacional com uma vasta obra poética. Suas criações, muitas vezes associadas à natureza e à contemplação da realidade, refletem a sua formação em Filologia Clássica e seu profundo amor pela cultura e pela vida.
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